Corações famintos

Acreditamos em palavras,

quando eram apenas letras ao vento,

acreditamos em músicas,

quando eram apenas sons dispersos,

acreditamos em sentimentos,

quando eram apenas miragens no deserto,

Nada do que tivemos foi real,

corações famintos, tolos por natureza,

corações famintos, esperando encontrar consolo,

buscando apaziguar vazios incuráveis,

tentando aliviar dores insuportáveis,

fingimos ser mais do que podíamos ser,

assistindo de nossas solidões nossa derrocada,

essa farsa chamada poesia de amor...

Acreditamos em verdades,

quando estavamos mergulhados num oceano de mentiras,

acreditamos em eternidade,

quando só tinhamos as próximas horas da noite,

acreditamos em promessas,

quando vivíamos errantes como pagãos da antiguidade,

Nada do que desejamos era legítimo,

corações famintos, enganados por displiscência,

corações famintos, desejando achar salvação,

buscando curar feridas jamais cicatrizadas,

tentando reescrever uma nova história,

dramatizamos nossa tragédia pessoal num teatro em ruínas,

nos aplausos irônicos de uma platéia ausente,

selando a tristeza final desse romance de ébrios na idiotice...