A menina que um dia eu fui

Procuro aquela menina dentro de mim, mas tenho tido dificuldade em encontrar.

Às vezes acho que ela se foi, mas sinto que ainda está aqui, em algum pedacinho de mim.

Sorriso fácil, sonhos intensos, o mundo era pequeno demais para ela, mas o seu mundinho era grande, não cabia em suas mãos.

Em sua imaginação, fazia morada.

Imaginava... Como sonhava! Criava, inventava, brincava.

Aquela amendoeira era plateia. O palco, aquele chão fino de cimento cercado por terra.

Tantas personagens, quantas histórias, ainda não podia passar para o papel, então ela falava...

Sozinha, com as paredes, com o vento, com o nada.

Era princesa, era rainha, era cantora, era artista, era heroína, era todas e era uma, era ela, que não cabia em si de tantas.

Talvez por isso nunca fora compreendida

Era intensa demais para tão pequena

Seu mundo a satisfazia, nem precisava de mais nada,

Nem caderno e nem brinquedos,

Tudo era muito vivo e vibrante, não tinha espaço para dor e medo.

Lá eles não fariam morada, pois se transformariam em filme ou novela, nunca em pesadelo!

Andava de um lado para o outro, o dia inteiro,

Parava para admirar o céu, as plantas, as nuvens... As estrelas!

Sempre quis saber o que havia além delas

Sonhava em ser astronauta, viajar o mundo, conhecer todos os mistérios,

Alma de aventureira...

Seus melhores amigos eram seus sonhos e pensamentos

E sua vontade de desbravar aquele outro mundo em que ela vivia, o real.

Era chato, era feio, mas ela não achava,

Via toda a doçura escondida

Via beleza onde procurava

Numa casa velha, num carro enferrujado, num portão quebrado.

Gostava de buscar a beleza das coisas e costumava achar

Inclusive nela mesma

Se achava a mais linda e amada, nem de príncipe precisava,

Mas sempre fora apaixonada

E o amor nunca coube, sempre teimou em extravasar!

Certas coisas nunca mudam mesmo e, talvez, nem precisem mudar.

Muita coisa se perde para outras ganhar.

No entanto, eu espero

Que a menina que um dia fui,

Possa reencontrar.