FATEIRA
Sertão, feijão, união
a mesa da fateira
tem fartura? Não.
É penúria, injúria, humilhação
Um pouco de farinha, misturada faz pirão
Com o caldo ralo, do raro e custoso feijão.
É tão pouco, mas não falta boa criação,
Ensina sobre a vida, a morte, coisas ocultas, religião
Deus, anjos, demônios...O Capeta, o Cão.
Também, de esperanças, de fartura na mesa,
Arroz, carne e feijão,
farinha, café, açúcar, manteiga e pão.
Dorme cedo a fateira
Lavando a alma em seus sonhos
Onde ficam no passado
Os tempos de sofrimento e escravidão.
Seu despertar é com os galos
Devagar toma tino do dia
Se por um momento pensa em se prostrar
O choro das crianças a faz levantar
Café, açúcar, farinha na mesa
É mais um dia de peregrinação
Lavar roupa, tratar fato, de boi e de porco,
Honestamente, ganhar seu pouco e pobre pão
Não reclama, não lamenta, apenas aguenta o duro rojão
Com sorte pesca uns pescados, que Deus coloca em suas mãos.
O almoço será banquete: Manjuba frita, farofa e camarão.
Outros tempos vieram
Mesa farta, tudo bom
Passeios, Rio, Mascote, Ilhéus, Salvador
Itabuna, hospital, internação.
Pressão alta, diabetes, perda da fala, amputação.
Minha mãe foi uma guerreira
Um exemplo de resignação
Morreu cuidada pelos filhos
Sementes geradas, em seu sofrimento,
Nesse duro e injusto chão.
Ivan Rodrigues dos Santos.
Tributo a Dona Amélia Silva Santos, minha mãe.