CORAÇÃO EDIPIANO

Sei que tenho

Um coração rebelde

Que sequer me pede

Para bater descompassado

Eu me empenho

Para discipliná-lo

Tal como um cavalo

Que precisa ser domado.

O animal

Ainda que selvagem,

Obedece ao pagem

Se este lhe ensinar

Já o que tenho é tal

Que se agita no peito

Não toma mesmo jeito

Quando resolve amar.

Vejam só

O que aconteceu

Com o coração meu

Sem que eu lhe permitisse

Pois sem dó

Daquele que é seu dono

Nem durante o sono

Parou com sua esquisitice.

Vi-me, então,

Uma vez mais escravo

Da rosa sendo o cravo

E odiando nela o espinho

Tudo em vão

Minhas preces aos céus

Assim envolto em véus

Fiquei cativo e sozinho.

Se eu morrer

Não findará o amor

Mas na ausência da flor

Fere-me o espinho e dói

Meu poder

Que era a força dela

Morreu junto com ela

E a tristeza me corrói.

Há um vazio

Dentro e fora de mim

E a saudade é sem fim

Desde que ela se foi

Só o frio

Aquece o meu deserto

Sonho e ela está perto

Dizendo: Deus lhe abençoe.

Meu rival

É poderoso e forte

E nem sequer a morte

Seja dele ou de mim

É o final

Desse amor eterno

Aconchego no inverno

Desta solidão ruim.

Eu e ele

Os dois estamos sós

E em silêncio nós

Compartilhamos a dor

Também dele

Esse amor é um pedaço

E eu chorando abraço

Meu rival progenitor.