Jogo da Bola
.
.
Jogo da Bola
mais que nome de lugar
é epíteto amesquinhante
para algo com aura e alma
de ventre de terra
tão sempre vívido
ainda que só meramente
a existir por aqui.
O que se me afigura notável
no lugar Jogo da Bola
é não haver ninguém
para jogar futebol
com ninguém
ou jogar à bola comigo;
tampouco haver bola.
Ninguém à solta por aí,
além de mim.
O Jogo da Bola e eu
a namorar a metade da noite
que ainda me assiste.
Olho, com algum desvelo,
estas duas fiadas de árvores.
Nove, de cada lado;
como nove pares, acasalados
nove vezes frente a frente
e o aguardar
os primeiros acordes
do minuete desta noite
para se divertirem, pois!,
impercetível...
insuspeitamente.
Dezoito árvores
eventualmente recenseadas,
num espólio autárquico.
Outras tantas casas e prédios
num círculo excêntrico
debruam este espaço
formando um cerco
silente e altivo
que se sente tanto ou mais
quanto até se pressente
pousada e mansa
a coexistência
de centenas de ninhos
deveras funcionais
e de milhares de pássaros
que aqui dormem
na dúzia e meia de árvores.
Condiz, então, o repouso
com o de pouco mais
que uma mão cheia de lares
humanos e habitados,
talvez duas mãos
de gente adormecida.
No Jogo da Bola
o empedrado cívico
justapôs-se à terra batida.
A urbanidade venceu
o jogo da pelota,
já não se marcam golos
não se corre pelo terreiro
não se ouve aqui o vozear
entusiástico e dominical
da boa gente do mar.
Quase me esquecia de dizer
que estou na Ericeira
e nesta franja de casas
em redor do Jogo da Bola
já se vende um Cartier
e vestidos em organza;
já se encomendam
ações na bolsa de valores,
já se navega na Internet
ao mesmo preço
do litro de combustível
ainda que as traineiras
estejam todas em terra,
pois que o mar nem sempre
está para graças.
Esta praça não é memorial
de algo espantoso
na minha vida
como, de resto,
nenhuma praça o foi;
não é sequer testemunha
de alguma ideia genial
de qualquer beijo ou abraço
de nenhum encontro
nenhuma despedida
que se vivessem em mim;
Assim mesmo, este
nunca será só um lugar,
porque se me fez inferir
do quotidiano frugal
à quietude que se pressente
numa alma tranquila.
Tenho a certeza
que sempre dedicarei
um sorriso de conivência
ao jeito de abraço feliz
a esse Jogo da Bola
até só de entender
que me fica, por aí,
eternamente reservado
um certo tempo e espaço
de mansidão e desvelo
de um lugar que entende
o que a fantasia
não escusa.
.
.
__________________LuMe
.
Este lugar (Jogo da Bola)
é como uma pincelada
numa obra prima,
é um verso primoroso
num poema Maior,
é um detalhe
da soberba moldura
que um certo Mar merece.
Jogo da Bola
detém um jeito de sentir,
que compõe a justa vaidade
de uma terra chamada
Ericeira.
Se disserem que essa é só
uma das namoradas do mar
eu digo que é a
que me faz mais inveja.