Uma dor, um poeta e um homem

Essa minha dor, pois, vive assustada.

Há horas em que é malvada,

noutras, dá-me lindos versos.

Nem sei precisar se o que me sufoca é a vida

ou o que me atormenta seja a lida,

ou se vivo, meramente, por acaso.

Quando ela me matar,

hão de secar as lágrimas minhas,

e as outras, estranhas, hão de lembrar se havia em mim:

um poeta ou um homem a versejar com espanto...

Ela me desengana a alma,

e se me calo, ela fala,

e se nada digo, ela me julga mudo,

e meu maior castigo se faz surdo,

não ouve em sua pouca dor o que na minha tanto existe.

Eu nem sei quem realmente o sou!

Foge de mim qualquer discernimento

e o que sinto, a dela, da minha, nada sente,

acho que é por isso que nosso amor amarga um pranto.

Se eu puder, quando dessa me for,

deixarei como herança uma lembrança alegre,

e que seus sentimentos não lhe ceguem,

ou morrerão comigo as suas e as minhas lágrimas,

feito um tributo a quem jamais amor com liberdade.

Vou-me. Saio com uma dor profunda

que me fura a alma louca e vagabunda

Já que não sei viver e sentir de formas diferentes.

Vejo em seu olhar o olhar que sinto,

esteja meu coração alegre ou triste,

aches estes versos bestiais, intransitivos ou inocentes,

pois é esse meu infinito jeito de ser diferente

e não esconder na alma os puros sentimentos,

porque indiferente, nessa vida, me esqueci de ser.

Que fique este poema triste,

cheio de mim e do que já não mais existe

e assim, triste, parto e assim triste, fico,

acreditando ser, deste, o seu último verso.