O feijão preto da preta
A história tem marcas da influência
De uma gente brava e guerreira
Desde a cultura a um mero feijão
Marcas de lutas, batalhas internas
Desafio, suor, resistência.
Na história dela, lembranças
De infância que o tempo não apaga
Nem que a saudade traga
Uma marca, uma mágoa, uma dor.
Entre brancas, brincava, cantava
Dançava e tantos -avas que a infância tem,
Sonhava.
Era igual. Cinzenta reluzente ao sol
Mesmo sangue tratado, sem distinção
Até que o preto do feijão lhe mostrou
Sabor hereditário, aroma sem igual
Envolvente, diferente, feijão com amor.
Foi que um dia ela percebeu
Ninguém por aqui faz
Um feijão igual ao seu.
A diferença está no jeito
Não que faz, mas que aprendeu
Sem teoria, truque ou receita
Com muita luta, idas e vindas
A menina então cresceu
Com qualidades e também defeitos
Do jeito que é, ela se aceita.
A pretinha hoje é negra
Entende a história e os amores
Conquistou espaços
Construiu sabores
De uma vida inteira a distância
Da raiz, do passado
E mesmo um dia já tendo errado
Aprendeu a fazer o preto feijão
Com suas próprias mãos.
Escrito em 08/09/18