Dona Amélia

Era simples
De humor irônico e sutil
Gostava ou detestava
Meio termo não havia
Seus olhos falavam mais que sua língua
A face era muito expressiva
De leitura fácil e interpretação certeira
A altura da voz sempre deu lugar à cena
Parecia serena
Mas não se dobrava à opinião alheia
Fazia o que lhe desse na telha
Adorava trocar de roupa e sem alarde aparecer na sala
Inventava moda, cortava panos, costurava-os, descosturava-os
E sem cerimônia refazia o desfeito, do seu jeito
Ouvia todo mundo, ria com todos
E de todos sorria
Sabia a humanidade de cada um

Seus claros olhos não gostavam de adeus
Lacrimejavam quando alguém se despedia
Mas, nisso, não se demoravam
Logo, logo, sorriam outra vez