O DENTE
Amanheceu... E por mais um dia
O dente da menina doía
E sua mãe ao dentista a levaria.
Maior que a dor era o medo,
E em direção a porteira,
Na estrada de terra batida, a menina corria.
O corpo franzino junto ao nervosismo
Fazia com que em desespero
Abrir a porteira ela não conseguia.
Subindo nas tábuas,
Escalando a madeira,
Feito degraus de uma escada, a menina subia.
E ao olhar para trás para ver
Se a mãe atrás dela corria,
Errou o pé e de cara no chão o mundo se abria.
E um gosto de terra
Misturado ao de sangue,
Na boca a menina sentia.
E sentiu também um vazio
E o dente que já não lhe doía,
Pois no chão de terra batida ele jazia.
E passado o susto e o medo,
Já não era mais segredo,
E de janela na boca, vitoriosa, a menina sorria.