O CARRO DE BOI

De muito longe se ouvia

O chiado muito fino,

Do eixo sob o carvão,

À frente vem seu Rufino,

Com o ferrão sobre o ombro,

Puxa boi macho e assombro,

Na ladeira vai subindo.

No planalto derradeiro

As crianças esperando,

O vento sobe da grota e

No planalto soprando.

A meninada correndo,

O carro de boi gemendo,

Rufino às juntas tocando.

No carro têm os fueiros,

A roda tem seu anel,

Feita de madeira e ferro,

Pra transportar a granel,

Mandioca, milho e arroz,

E cana que sempre foi

Da terra de engenho e mel.

Eram três juntas de força,

Puxando o velho carro.

O sol subindo ligeiro,

Aquece a estrada de barro.

Tiritam galhos aos ventos,

Às juntas a passos lentos,

Sobem o alto do piçarro.

Os meninos seguem atrás,

Lá se diz pegar morcego,

Dependurados aos fueiros,

Não importando o carrego.

Seu Rufino nada diz,

Cada qual fica feliz,

Tendo à terra muito apego.

Presa as minhas lembranças,

Esta imagem é bem real,

Se eu falo do que guardei,

Tenho como um ideal

Passar a quem não conhece,

Já que a cultura enobrece

E o aprender, não faz mal.

Rio, 26/09/2007

Feitosa dos Santos