Ser lembrado
Bom dia, pessoal. Fiz esse poema pensando em pessoas que sentem-se esquecidas da vida de pessoas que amou, que parece não ter importância pra elas. A tristeza de quem amou e não foi amado.
Ser lembrado
E de repente, no segundo repentino da última gota do temporal, numa lembrança que cogita os sonhos mais distantes,
No escrever que se torna atemporal a saudade e a saudade a ele,
Na inocência de uma expressão insignificante, no éolo que mais leva do que trás,
O tempo torna-se um aparato para tentar explicar ao coração que não esquece o inesquecível.
Pra onde fugiram todos os momentos? Por onde andam todas as estrelas que antes alumbravam o desconhecido?
E quando minha teimosia passeia pelos meus dedos, o céu chora comigo incansavelmente,
Num sonho que sonhei em morte e não vivi em vida, quando a vida valia qualquer sacrifício,
E o medo vem arrancando esperanças até mesmo antes de existirem.
E o que vive no nosso espírito não vive no espírito do semelhante, e o que é sentido no nosso coração não é sentido no dele,
Enquanto vivemos momentos, somos só recordações em memórias alheias, tampouco lembradas,
Tampouco extraordinárias, e o que era tudo em nós, torna-se nada em todos,
E tudo que existia de si, apaga-se na existência de outros.
E o choro vem gritando nos olhos daqueles que foram esquecidos, e transborda como um oceano enfurecido,
Naqueles que amaram e não foram amados, no espírito de quem perdoa e não é perdoado,
E o que resta depois da eternidade que não se eterniza?
O vazio da existência que também não existiu.
E como o sol que abraça a lua e a lua que o aceita, assim também é todo o anônimo,
E coisas que não poderiam ser, tornam-se verbo em ascenção, visões que não podiam ser vistas tornam-se querubins,
E mesmo que tenhas morrido nas lembranças dos que amou, não perecestes em tua lembrança,
Não é vivo aquele que é lembrado, é vivo aquele que vive e recorda.