RECONHECIMENTO

RECONHECIMENTO

I

De repente, no extenso horizonte ,

Assoma o fulgor de um clarão,

E tímido, qual navio soçobrando a medo,

Um raio tateia, e bem cedo

Entre as nuvens se encerra.

Mas num instante,

Num átimo de bravura, ousa dar a cara,

E retumbante escancara:

Há tantos seres arrogantes e maldosos,

Prepotentes e orgulhosos,

Que transitam pela terra

Em cúmulo de maldades,

Tendo em lugar do coração --

Uma pedra, e pretensiosos

Vão desfilando suas vaidades

No picadeiro da ilusão!...

II

Pobres iludidas criaturas ,

Luz alguma, suas mentes ilumina --

Excrescência, das excrescências,

Pensando tolamente

Serem vetores de grandiosidades,

E que tudo aos seus redores, circula,

Tendo as pessoas, qual moleque de picula

Calcadas aos pés,

E o mundo a lhes prestar culto,

Não vendo das brumas obscuras

De suas parcas consciências,

Foco de atrocidades ,

Ao revés,

Divisar um sacrossanto vulto

De tamanha grandeza,

De singular nobreza,

Cujo infinito amor é correnteza

Que verte água dos olhos,

Qual fonte cristalina,

No caudal da emoção.

III

Não ouso, ante minha

Pequenez de vivente

Declinar dessa augusta

Pessoa o nome.

Em hipótese alguma o farei.

Isso é algo que a razão

Se me consome,

Mas não vo- lo direi .

Nesse ínterim,

Uma voz intrépida,

Com estrondar uivante

Estruge noite afora:

Esse ser sublime,

Cujo amor infindo,

Num gesto lindo

Que somente o coração puro

De Santa exprime,

E que tu bem o fizeste,

Querido raio celeste,

De modo tão impogante --

Chamando-a de sacrossanto vulto,

Não distingue pompas,

Posição social, nem cor,

Pois a todos ama

Com o mesmo penhor.

IV

E eu, o vento errante,

Destemido viajante

Das longínquas plagas

Que desvirgino as matas,

Sacudindo as vagas,

Gemendo pelas fragas,

Encrespando as ondas do mar,

Livre como os versos do poeta,

Imortalizados na voz do estupendo

Agnaldo Timóteo, testemunha sou

Dessa ardente chama

De desvelado amor,

E uníssono entoo agora:

Que é isto que ecoa no ar?

É o grito retumbante

Da Estrela Divina,

Da Santa Peregrina,

Que vive a clamar:

Senhores, a luta é árdua!

O sofrimento dos que

Necessitam ajuda, é atroz!

Vim pedir ajuda a vós,

Para aquele que já não

Sabe sorrir,

Que já não sabe cantar,

Que vive à margem do infortúnio!

V

Somente um coração desgraçado!

Um peito fechado

À caridade, ao amor,

Ficará indiferente a tanto lamento,

A tanta dor:

Senhora, abre a porta!

Dá-me abrigo!

Eu sei que és amiga do pobre,

Do mendigo!

Vês, eu trago o peito em chagas!...

Já palmilhei diversas plagas

À procura de arrimo:

Bati à porta do rico,

Do político,

Da sumidade!

Que tamanha impiedade!

Ninguém me acolheu!

São corações de pedra!

Túmulo fétido onde a semente

Do amor não medra,

E há muito, tudo de bom feneceu!

VI

Não podemos ficar indiferentes

À dor pungente

Que aflora o peito dessa pobre gente,

Em sua hora de extrema aflição!

Portanto, me ajudem, na difícil

Campanha, em prol do humilde,

E do necessitado – que só têm

De seus – o sofrimento e a resignação!

VII

Irmãos, eu não anseio por glória!

Não quero um castelo de ouro!

Não quero grandioso tesouro!

Minha maior vitória --

É a vitória do necessitado

Rogando-me auxílio,coitado,

Nas suas horas de tormento,

E eu possa atendê-lo,

Enfim, socorre-lo,

No seu momento

De acerbo sofrimento !

VIII

E assim essa incansável batalhadora,

Trabalha o dia inteiro,

Com inteirado fervor,

Provindo da ação arrebatadora

Do seu nobre coração, do amor --

Desvelado hospedeiro!...

Labora , sem descasar um minuto,

Tendo por tributo –

O reconhecimento de quem

Precisa de ajuda, de uma mão amiga

Para socorrê-lo nas horas mais difíceis.

E sabe que nessa Santa, guarida, tem!

IX

Brademos ao firmamento,

O nome da nossa heroína:

A Estrela Divina,

A Santa Peregrina _--

Irmã Dulce!

Este poema foi composto em 1984. É uma pequena homenagem a quem de fato, foi uma Santa Peregrina. Irmã Dulce merecia o Prêmio Nobel da Paz. Mas ela já o ganhou lá no Céu, junto ao Bom Deus. E somente o Senhor Deus, para reconhecer os grandiosos serviços de uma Santa, que dedicou 40 anos de sua vida, aos pobres, às pessoas que diariamente a ela recorriam.