SEMPRE É TEMPO DE AMAR

Há um tempo entre os tempos

Que o tempo não pode apagar

Há um espaço entre espaços

No espaço-tempo do amar

É um tempo de saudade

Um espaço de solidão

De uma história perdida

Por entre o sim e o não

Tu és como as gotas de água

Que buscam juntar-se no mar

Eu como grãos de areia

Que teimam em se espalhar

Mas nesses ciclos da vida

Entre terra, mar e céu

As tuas águas, sedentas,

Revolvem o corpo meu

Tu refrigeras minha alma

Enquanto a tua eu aqueço

Sempre como despedida

Do fim melhor que o começo

No precipitar de teus beijos

Enlaçado sou em teus seios

Afago teu ventre em suspiros

E me perco em devaneios

Teu líquido em vagas e ondas

Por sobre meu corpo campeia

Arrasta em torrente de Amor

Meu sólido ser de areia

Sob o rebojo das águas

A borbulhar, a tremer,

Corpos e almas se unem

Formando um novo ser

Abre-se fenda no tempo

Dobras no espaço se faz

Aquele instante presente

É uma eternidade de paz

Ali já não sei quem sou eu

Sou todo você sem limite

Nesse instante de encontro

Que a vida enfim nos permite

...

Mas tu vives a fluir

E talvez por isso ignoras

Que mesmo querendo ficar

Segues sempre ou evaporas

Em teus estados, quaisquer

Ninguém te pode deter

Pois és livre, leve, liberta,

Das quatro estações é teu ser

Eu como grão vou ficando

Assim em meio à viagem

Por entre dunas de areia

Que ficam à tua margem

Mas estas areias tão densas

De rastros, resquícios, memórias,

Em cada um de seus grãos

Resguardam as nossas histórias

Cada partícula minha

Agora por ventos volvida

Já estiveram no leito

De tuas águas de vida.

Segues meu rio de Amor

Para correr tu existes

Não pare se lá das margens

Ouvires os cantos tristes

São as canções da saudade

Que a areia sente de ti

Mas ela espera o encontro

Com as chuvas que estão por vir.