Sra. Carpeaux

Eu nunca falaria sobre isso com ninguém.

A gente sempre está sozinho

nessas horas.

Era uma vida tosca

e ela era apenas uma mulher bonita,

nada mais incompatível

se relacionada a mim e àqueles dias.

Eu tinha ratos nos calcanhares

baratas por companhia

e cântaros cheios de ânsias

e sonhos irrealizáveis,

estava tão fudido, mas tão fudido

que se conseguisse imaginar

teria estourado os miolos,

não, não, não, eu era a curva no Rio

do Cordeiro, até minha mãe

teria concordado

com minha desgraça.

Resistir é uma doença crônica

e fui mais longe do que deveria.

Eu nunca me esqueci

daquela noite e sua música

me lembro da luz brilhante

na janela da Sra. Carpeaux

e me lembro que escureceu

enquanto eu estava sentado

na rua e olhava

e agora, mais de vinte anos depois,

ainda me lembro de cada nota da música

a vagar no ar parado da noite,

a única coisa é que não me lembro

mais como tocar, mas estou com sono

está quase na hora e esta já é a memória

de outra história.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 02/04/2021
Código do texto: T7221815
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