AQUELE MENINO

 

Tempo aquele... ah! divino,

De meninas, de meninos,

Despreocupados com a sina,

Com os desencontros, as crises,

Os deslizes da vida adulta,

Com os desvios de conduta.

Tempo de brincadeiras inocentes,

De vida sem senhas,

De água da mina,

De fogão de lenha,

De luz de lamparina,

De fumaça nos narizes,

Em meio a tanta pobreza,

Éramos felizes.

Tempo aquele... ah! florescente,

De encanto, de canto ao luar,

De frutas no pomar,

De parceria com a natureza,

Tempo sem pressa... horas lentas,

Nas almas isentas,

De responsabilidade,

Lúdica liberdade,

Entre as enigmáticas serranias.

Tempo aquele... ah! eólicas melodias,

Parecia que o vento morava ali,

Sonoro, senhor de si,

Dó ré mi... me fazia voar...

Acreditar na volta do meu genitor,

Coisas de um sonhador.

Tempo que corre... correu...

Como um rio rumo ao mar,

Hoje, estou perdido – sinto,

Que estou em um labirinto,

Estranha vida, estranho tempo, estranho eu,

Onde foi que aquele menino se escondeu...?