Biografemas

concha casca coração

Bloquinhos de casa madeira

Montando sem afobação

Sozinho a tarde inteira

Invento mil brincadeiras

A vida é vã e é vão

Meus olhos molham embaçam

Imagem escorregante

O amanhã que se foi

Me torno sempre a chorar

E nunca mais vai ser antes

E nunca mais vai voltar

Nem Barbie nem G.I Joe

Na brincadeira da cena

Se faz a fabulação

A boneca vira gente

O bardo e o violão

A fada que rouba o dente

Nariz enlarguece no não

O meu chão suas pegadas

As mãos são luz e a sombra

Do teatro na parede

Os bichos de George Orwell

o pensar sempre tem sede

o som transversal penumbra

Do que a cabeça lembra

De tudo olfato cheire

De tudo a palavra lavra

Só sei que o livro livra

Só sei que sílaba salva

Profetizou Paulo Freire

A fome só quer o agora

Por tu espero o depois

Agouro de guerra e grito

Ouvi por aí o ditado

Li no verso do retrato

Que um mais um não são dois

É no correr da esperança

Praias crianças brincantes

Um lugar feliz no mundo

Esqueça o frio e a água

Mande embora medo e mágoa

Mergulhe de vôo e de dança

O miaeiro e o ouro

A Emília e o visconde

Verne mil léguas distantes

Das fábulas mais brilhantes

Sonhante amor duradouro

Jade várias noites mil

Nem tudo que reluz é choro

Nem tudo que explode expande

E cante desafinando

Com plateia ou no chuveiro

Tudo que o sol toca

Estrela vestida de escuro

Nordeste do mundo inteiro

Que o céu afoga esconde

É pássaro é pio e poleiro

Quero colher cada lágrima

No apertar da saudade

Encasular todo o tempo

No vir a ser da idade

Quando a saudade apertar

Quando tua voz chamar

É só de novo eu plantar

Fazer brotar mocidade

No monóculo da foto

te vejo em frame-mistério

A inteira toda essência

Na viagem congelada

O teu corpo é existência

O teu cheiro é evidência

O teu olhar é império