A CHUVA
Da minha janela
Vejo a chuva que cai,
Na rua vazia,
Quando o dia se vai.
A tarde está cinzenta,
Já brilham as luzes da rua,
Sorvo o meu chá de menta,
Cujo aroma no ar flutua.
Do livro que lia estou descansando,
Também ouvia música, que agora acaba,
Fico a vida considerando,
Enquanto a chuva lá fora desaba.
Olho novamente a janela.
Um homem velho me chama a atenção:
Anda na chuva sem abrigo,
Trazendo uma criança pela mão.
Andam os dois sorrindo,
Pisam nas poças do chão,
Não se importam com a chuva caindo,
Não temem raio ou trovão.
Que louco! Pensei eu.
A criança pode adoecer!
Será que ele não percebeu?
A chuva parece lhes dar prazer!
Mas, paro, reflito e lembro
Que quando criança era,
Num já longínquo novembro,
Durante uma chuva de primavera,
Sentado na varanda, meu avô,
Enquanto a chuva batia,
Olhou pra mim e falou:
Não fique triste menino, sorria
E rindo me dizia:
Chuva não mata não.
Vai brincar de tomar banho.
É só passar sabão.
E levou-me pra chuva sem acanho
Onde brinquei pra valer na lama.
Guardei na memória o banho,
Aquilo é que foi programa!
Voltei a olhar pela janela,
Sorri pra criança molhada,
Revivi minha infância nela,
E ouvi dela gostosa gargalhada.
Enquanto os dois seguiam
Nas poças pisando forte,
Chutando toda água que viam,
Gritei pra eles: Boa chuva! Boa sorte!