RETALHOS DA VIDA

Minha manta tem retalhos

Azuis, alegres, floridos,

Entre milhentos trabalhos

Pelo destino reunidos.

Os que foram mais pesados

Surgiram neutros, cinzentos.

Cosi-os mais espaçados,

Pressurosa, sem lamentos.

Se uma lágrima caía

Sobre um retalho da vida,

Minha agulha a compreendia,

Ao se afastar comovida.

E a manta com pontos lassos

Ficou mais fina, mais frágil.

Não pesa tanto nos braços,

Ainda me sinto ágil!

Agora vou-a alindando

Com linha feita de amor.

Nos negros eu vou bordando

Uma saudade, uma flor.

Quero levá-la comigo

Já esgaçada, sem surpresa.

O Senhor, meu grande Amigo,

Me perdoa, com certeza!

Lisboa - Portugal

Maria da Fonseca
Enviado por Maria da Fonseca em 15/02/2008
Reeditado em 15/02/2008
Código do texto: T860430