Espontaneidade

I

Então diante de micro-computadores-monstros e seus dentes de futuro

a morte é iminente e real, diante das coisas

das coisas mais estranhas e plásticas

Voltamos às eras de dragões, bestas e desgraça

e embora o amor esteja aí desde os tempos remotos,

nada nele mudou, nada nele mudou.

Fitas e ferros, espectros de fogos, a mudez das plantas

as raízes dos prédios, suas crostas na crosta terrestre

e nada mudou deste então. De Rimbaud a Renato Russo, não mudou

e no entanto tudo vai bem, às vezes mal. Às vezes ao som de violinos

e das estrelas, das quais nada se espera.

Mas vai falando de risos e ursos, e os moleques lá embaixo nem se

quer se importam. Entre as pequenas luzes brancas e alaranjadas da noite brasiliense.

Os cães e as crianças ainda não mudaram, ainda são iguais e não

pensam em amanhã. São os únicos sem métrica e felizes...

II

Voam pelo ar restos de brisa, do estopim da manhã.

Explode o orvalho em fúria com seus braços lisos abraçando a grama.

E a manhã aparece com pesar em seus pequenos tsunamis de névoa.

Eis então que a conclusão é igual à premissa.

A relevância é irreal. Poço de prazer e queda sem fundo

Imundo e mundo, e mudo. Frio e doce sem saída, que segue em paz

sem começo e sem fim, no qual se busca

a busca de qualquer sentido

Brasília é uma floresta quadrada e concreta. Poço do céu

A premissa é a conclusão

há a não-razão, e os moleques-estrela a brincar com a língua da lua.

Novamente

e novamente

e novamente e novamente.