CLANDESTINA

Clandestina sou nessa terra de quimeras

que me tenha livre as leis

sou prisioneira de guerra.

Livre apenas as palavras que ouso

por teimosia espalhar no branco que surge

das folhas onde sem temor meto meus dedos

e transfiguro as pedras em jardins suspensos de sonhos

que invadem impiedosamente meu repouso, para um descanso somente

e logo depois me jogar como aventureira numa batalha solitária,

levantar a espada, partir sem olhares saudosos,

erguer cada palavra, por de pé meus ossos

e à beira do extremo cansaço, retornar à cama, sair da sala,.

Como pois sou livre, se faço-me assim clandestina?

sou ave noturna que tira das trevas sua vida

à luz do dia sei, sou ave de rapina

que se alimenta das verves dos seres viventes

dos restos deixados à flor da terra, da lama borbulhante,

do calor do sol

- que bela praia, com certeza –

que abre chagas no solo e resseca nossa mesa,

Tão diferente sou, que igual me faço

para alçar-me ao leito da compreensão

suave vôo por cima das montanhas

alimento certo para as minhas folhas brancas

que aos poucos vou sujando com tinta de grafite

e borrando a palidez do papel com minha pretensa emoção.

Que pretensão a minha!

Mas, sou escrava das emoções que transformo em palavras.

Tento voluntariamente ausentar-me das infinidades que dançam

Sob os meus olhos e clandestinamente me escondo nas madrugadas...

Danças ciganas, solitária no meio da sala

Um olhar pela janela observando as luzes que se apagam

O silêncio absoluto que me faz escutar sua voz

a música que ouço e traz aos meus olhos lágrimas

e sem perceber lá estou, como num transe incontrolável,

rabiscando os sentimentos que me afloram.