VIVO EM VOCÊ

Tenho suas sensações o tempo todo

É como se aí dentro eu vivesse

Por horas explorando seus vazios

Cada dia preenchendo seus espaços

Enclausurado em suas artérias

Sentindo a pressão de cada diástole

Perdendo o fôlego em cada contração

Em cada espasmo seu na hora do prazer

Teu delírio aproxima-me da morte

Sabendo não ser eu ali percorrendo

Cada centímetro com ávidas mãos

Nem ser eu a razão dos seus gozos e arrepios

Há horas passei pelo seu coração

Nem sinal de mim naquelas plagas

Eu inexistia em cada célula

Não havia marca das minhas pegadas

Em cada fibra muscular só havia vastidão

Espaços a serem preenchidos

Como um campo antes da semeadura

Uma aldeia depois do vendaval

Senti você simulando trejeitos

Cheia de resguardos e receios

Tentava esconder seus seios

Já que as fronteiras já entregara

Abrindo-as àquele aventureiro

Um mero posseiro que ignora

Suas entranhas ao contrário de mim

Que como um vírus mutante

Vivo em você