O CÃO E O PORÃO

O cão raspava o chão de tábuas

Todos os dias no mesmo horário.

Ansioso, se cansava, desistia da tarefa

Correndo para o quintal.

Um pau de lenha às vezes o acertava

Sempre nas patas de trás.

- Sai cachorro maldito,

Ainda me furas o assoalho

Sei ser esta a tua intenção.

Que tanto queres lá embaixo?

Não há nada no porão.

Além de chorar escandaloso

Mancava a cada dia mais.

Mas sempre repetia a tarefa

Com afinco e determinação.

A tal ponto chegou seu intento

Que um buraco no assoalho se fez

E uma luz muito brilhante surgiu

Logo na primeira frestinha.

Se espremeu, se espremeu,

Tão fininho se fez

Que pela fresta estreitinha,

Com muito treino e vontade

O cão desapareceu.

Caiu na luz do porão

Das pernas não mais precisava

Embalado no clarão forte

Surfou para a liberdade.

Alguns ainda perguntam

Para que tanto trabalho?

Se para conquistar a liberdade

Bastava pular o muro.

O cão, não sei se interessa,

A todos poderia informar

Que a liberdade tão fácil

É caso de corrupção.

Mas aquela alcançada com o esforço

Com o sonho e a determinação

É que redime

O cidadão, ou um cão.

Muitos preferem pular os muros,

Outros cavar seus sonhos,

Se encolher perante o destino,

Passar mancando pela vida

Sem se jogar na luz,

Que pode ser a inteligência

Ou a determinação.

E para esclarecer o caso

Deixo esta mensagem.

Às vezes muito difícil,

Tão difícil e improvável

A porta se abre para a felicidade

Numa frestinha de luz

Para não terminar sem desfecho:

O cão vai bem obrigado,

Navegando sorridente,

Na luz da felicidade.

Que conquistou dia a dia

Raspando a vida,

Buscando a luz,

Levando paulada

E escolhendo entre

Pular o muro

Ou viver seus sonhos.

Humberto Bley Menezes
Enviado por Humberto Bley Menezes em 29/03/2006
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