Ganga anil ou Minueto do perdão no coração do açude velho

“Em toda parte que toquei o chão,

Um infeliz vestido em negro,

Junto a nós vinha sentar-se,

E nos mirava como um irmão!”

Ganga é aquele sagrado poder da água. Açude que se formou do céu em pálidas cortinas.

Doces colinas não são números completos que o contaminam.

Dramatiza ganga nosso halo envenenado. Ganga vida. Ganga morte.

Fui te encontrar num lance da sorte e no vazio

o equilíbrio que me fez sorrir e pensar em elevação.

Ganga curva de moça. Ganga mente e corpo de menino.

Ganga embalo de dança. Ganga alegria em desatino.

Lutaremos Ganga contra o desejo obsessivo de sangue e

venceremos cavalgando suaves escarpas no dorso do triunfo.

Nas curvas das árvores. Ganga não traga vento quando uivamos na paisagem.

Honrai a nós mesmos nos restos de vida que depositamos em tuas nascentes.

Ganga água. Ganga coração forte batendo no deserto.

Um mundo todo construído areia fofa, finíssima,

na junção que a faz forte e torna-se frágil na casca sólida, oca, opaca.

Onde se encontra minha única certeza

quando não te reconheço olhando meu neto?

Espelho do espelho em miniatura do meu reflexo do espesso concreto

embaçado pelo teu leve sorriso por onde olha estarei contigo

nas gentis lembranças, nas alegorias de tropas, nas crianças de teu berço.

Ganga já fui você em mais de uma vida. E quando não havia mais dúvida em minha crença

meu sonho se parecia tão pequeno em teu corpo exótico.

Meu mundo se perdia em vinte e cinco primaveras. No choro

Ensina-me a ser tão feliz quanto o teu sol.

A ser a brisa matutina quando minha vida tombar no tédio.

A ter o sopro vespertino quando me abate as horas tristes e descontentes.

Traga-me uma gota de névoa quando terminares as tardes.

Nas noites retenha contigo a videira de espinho de meu coração dormente.

Olhe em meu olho para te ver mais de perto: caminharás comigo

no sol da manhã ensinado a importância da água em meu corpo fluido.

Minha saliva será tua glória!

Pegue em minha mão. Façamos um compromisso.

Quero muito de ti no esplendor do básico mistério

que aguçando minha curiosidade pueril na descoberta de uma atroz melancolia

modifique totalmente a capacidade em te ter pela concentração completa.

Esfacelada por entre dedos e sonhos aos teus pés sou brinquedo, cordas, fios, letras,

palavras que afirmam que já fui mais sincero contigo

quando dei forma ao mundo Ganga quereria de ti uma ligação mais forte que as pontes

de oxigênio e hidrogênio. E que o apaixonado mergulho em tuas margens

me transbordasse numa fugaz relação a cada segundo.

Põe no meu estomago dolorido a dança de moléculas de um leito Írial.

Nas tempestades dos raios da manhã brilhos e tesouros.

Nos cálices de fim de noite sinos além.

Desadoro-te pela boca do poeta imberbe que te desconhece.

No sorriso da face do abismo o oceano dorme.

Ganga rei. Ganga divindade. Rainha doente da Borborema: Encha-me de seres viventes.

Ganga útero. Ganga berçário. Ganga cantiga que nina meu sonho ensolarado.

Quereria de ti mais que me verter num pôr-do-sol atroz.

Mais que reunir amigos sentimentos em canções.

Mais que ter que caminhar desperto liberto aberto todos os dias

Porém, enquanto a temperatura permanece constante nas rochas

que confinam as cavernas de pequenos espaços de teu logradouro, te peço para que não sejas obstáculo as estrias de estrelas de teu céu arredio.

Ainda quero passar ao outro lado das douradas ilusões,

porque aqui estou incerto no modelo que me fez de foz.

Fecho meus olhos e o universo desaparece em minhas sombras.

E em Teus olhos vilmente eu permaneço sob a forma do Falso!

gnothi seautou et epimeleia heautou.