CAMPANÁRIO

saio
volto envolto em brumas
rebentam as ondas em espumas
encontro luares e sereias
empederni-me

rude
enrolo uma sereia em rede de metal
busco a bola de cristal
quebro a vidraça das brumas
engulo ásperas espumas

viajo
a lua é estação
marte uma visão
buraco negro o destino
potente atração

não chego
paro ante plutão
estou no meu chão
saudades da sereia me assolam
amolam

tento
entender o meu divagar
sem saber análise
ou técnicas torturantes
antes

finjo
ser dócil amante
cego mago ignorante
busco a resposta cristalina
quebro a bola

chuto
um loquaz ponta pé na sorte
sei do sol a morte
do universo o desabar
consolo-me

firo
depeno a cauda da sereia
jogo ao mar escamas
irrompem vulcânicas chamas
plutão sai-me em socorro

fujo
saio das terras do arlequim
invado sítios soterrados
descubro meus erros passados
inebrio-me

não são
palavras asteróides traiçoeiros
nem sílabas sons do além
apenas meros impulsos
ou repulsos

são meus ditos
sem vírgulas e pontos transcritos
por meras letras pintados
de astros brilhantes ignorados
à minha sereia sagrados

calo
se falar sou perverso
desisto de meu inverso
num poema não cabem meus versos
soam apenas diversos