Música do Farol

Estrelas cadentes não se apagam no mar salgado,

Cometas não percorrem o céu de mil em mil anos,

Há uma magia imperceptível que ás vezes ocorre de surpresa,

De onde menos se espera coisas boas mesmo estranhas acontecem,

Vidas confundem-se com poesias e escritos sem linearidade,

Sons tocam alto da torre do farol desativado no rochedo,

Músicas amplificadas para uma cidade costeira,

Instituindo ao meio-dia uma parada para um bailar,

Momento de entrega coletiva ao sentimento público,

Velhos e crianças deslizam pelas ruas, como bailarinos de salão,

Enquanto os pássaros sobrevoam a cena de pintura impressionista,

Poderia ser um quadro de Monet ou Degas essa imagem tão livre,

Nenhum problema transpõe a mente das pessoas durante o ato da dança,

Esquecem cada dor, cada lágrima, somente os pés se movimentam,

Mãos que se encontram, corpos que se unem num mesmo ritimo,

Rodopios leves entre a esquina de St. Patrick e o café da Coline Avenue,

Vestidos esvoaçantes contrastando com suspensóles tradicionais,

Sapatilhas com fitas de cetim ao tornozelo entrecruzam sapatos engraxados,

Minutos repetidos como se o mundo simplesmente parasse,

Olhos distantes com brilhos de quem experimenta o êxtase,

Não existem grades, nem limites, somente sonhos compartilhados,

A música se prolonga projetando-se para além das montanhas,

Sorrisos iluminam rostos entregues a surrealidade desse cotidiano,

Quando as últimas notas saem da caixa de som e a vida retoma seu curso,

Ainda o menino corre para pegar seu peão guardado no meio fio,

As lojas reabrem suas portas e voltam ao expediente normal,

As donas de casa empurram seus carrinhos de compra,

O posto de gasolina volta à abastecer os automóveis,

Enquanto todos esperam satisfeitos o dia seguinte ao meio-dia...