Tecelã

Tecerei todos os meus amores

no xale de linhas

seda enroscando seda

um por um tricotados

pelo feitiço fêmea.

O xale nas costas

as lembranças, retratos

nas caixas de papelão.

Passarei como Cora

pela ponte de fios de cabelos, brancos

sobre abismo de fogo

com meus amores, tantos

minhas pegadas de tecelã.

As dores, nós e tramas

tocarão os sinos do cansaço

onde desfaço acordes, ilusões.

Descansarei, então

nos abraços do tempo

último crepúsculo, pó

tecendo sementes

com o vento.