Entre um cigarro e outro

A página em branco me assombra,

sem sombra de átomos no banco.

Átomos para fazer letras.

Na cabeça, sem banco de dados.

Árduos momentos ao vento,

levando o sentido ao nada.

O tudo não completou a alçada.

Mais um verso para o intento.

A intenção é mais que o talento.

Pensar. Soprar. Fumaça.

Fora da página, olhando o ar,

fui me desfazendo do branco.

Finalmente acessando o banco.

Mais um trago a traçar um troço,

no não olhar para a página que esboço.

Do nada vieram palavras,

renovando a poesia em novas safras.

Sem o branco da página ficou mais fácil.

Mais um sopro para trazer um verso ágil,

no trago que trago para fora.

Repetindo o banco na memória,

aquela aleatória cerebral, a mesma história.

Volto ao patético reforço musical,

revisando mentalmente cada vogal,

num ritmo de criança que decora o telefone.

Repetindo o banco na memória.

Deixando o branco cheio de história.

Mais um trago para fingir a vitória.

Rafael S P Valle
Enviado por Rafael S P Valle em 17/06/2009
Código do texto: T1652782
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