Névoas de Um Dia de Inverno

Tranco-me na peça mais obscura da minha casa

Olho pela a vidraça do sótão e dali eu vejo

A grama morta recuperando-se, ela se atrasa

E eu observo os musgos do nosso morto vilarejo

Aonde simples noivos casaram presos em delírio

Acham suas juventudes na fralda de um filho

Injustiçados pela culpa da maternal ausência

Quando o pai, sedento, morre como um andarilho

Entre a poeira que enfeita a sua consciência.

Carrego em minha mão o pano que enxáguo as lágrimas

Da luxuosa e egocêntrica ajuda que eles concederam.

Entretanto, não me sinto mal pelas passageiras dúvidas

De ser anti-social, até mesmo que eles não percebam...

A cidade já não me parece tão modesta como antigamente

Vejo um ciclo de ameaças e trapaças, mas não farei nada

Não posso comprar ouro, mas tento ser eu mesmo, somente

Ser alguém que não se importa mais com uma justiça calada.

"Salve-me, mas não tenho ouro! Sei que ouro não cura!

Mas levem-me ao prelúdio da vida e dêem-me uma saída!

Fique ligado, do lado de fora de sua casa tudo está queimado

E eu, que queria apenas curar a dor insuportável da ferida!

O que dizer? Vamos morrer? Tudo bem, mas não morrer calado!

Os noivos já chegaram, vamos tirá-los de perigo agora!

Quero que providencie uma água pra essa senhora!

Por que todos correm com o rabo entre as pernas?

Do que adianta? Perderemos tudo, vamos embora!"

Os gritos são nítidos e não há alguém que os atenda

Eu queria ajudar, mas continuo observando e não paro

Não tem solução, a única esperança já está à venda

Bem no meio da multidão, o preço custa muito caro.

Sempre quando eu olho para esse pano velho e ensopado,

Lembro-me da última vez em que precisava me reerguer.

Eu queria ajudar e repito isso novamente, para esclarecer,

Mas ninguém atirou a primeira pedra e eu permaneci calado.

De nada adiantou do outro lado do vidro...

Pessoas continuam gritando pelo transtorno

Enquanto há vida aqui dentro, há morte lá fora.

Continuo aqui observando... Isso me dá sono...

...Acho até que adormeci faz tempo...

...Nem sinto minhas pernas...

...Boa noite...

Matheus Mendes
Enviado por Matheus Mendes em 12/10/2009
Reeditado em 13/10/2009
Código do texto: T1862725
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.