Como água derramo

Meu pranto

Meu mundo

Sem no entanto

Me acorrentar ao que sinto

Navio sem rota

Água sem destino

Amor cigano

Derramo porque não sei cantar

Minha voz é rouca

E ainda que pouca

Sobra tempo para falar de amor

Derramo para poder existir

Nem que seja para te assistir

Passando na rua sem me ver sorrir

Respiramos assim o mesmo ar

Como água derramo

Meus sonhos, encantos

Para enfeitar teu caminhar vazio

Coloco música na voz do vento

Para que na brisa eu possa te tocar

Como água derramo

Pelo tosco caminho

Sem fim, sem ninho

Parecendo um passarinho

Meu olhar que te segue

Um olhar não negue

Nem se atreva a voltar

Me fiz poeta inspirada na ausência

Que derrama de meu peito solitário

Mas que gosta dessa solidão

Como água derramo

No futuro incerto

Minhas páginas em branco

Para que nada falte aos que depois virão.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 12/01/2010
Reeditado em 13/01/2010
Código do texto: T2025692