A Outra Peste Negra

E toca o sino mais uma vez. Começou uma nova era.

O ouvimos feroz dentro das muralhas rochosas da catedral.

Ele guia nosso tempo. Ela guia nossa vida.

Já é noite, durma em paz. É inverno, mas não tema.

Raios quentes da manhã envolvem o berçário.

Onde a luz se dá novamente. O segundo se contorce.

Observado à sombra do primeiro, pois este já tem o feudo.

Ó, nascido! Futuro abade. Que o sol o ilumine quando as trevas chegarem.

Apenas pelo destino alcance o trivium, o quadrivium.

E nas frígidas masmorras úmidas, domine o saber erudito.

Nem todos temem ao inferno. Esta doutrina está os alienando.

Sob o pseudônimo de hereges serão subjulgados perante a Deus.

Ecoam os gritos, filhos das ardilosas chamas da Justiça.

Verdade absoluta desliza nas mãos da excomunhão.

Retomem a terra de volta. Vagueiem pelo bosque da morte.

Seja camponês, seja mendigo. Seja pobre, seja criança.

Absolvidos por suas cruzes vermelhas. Derramem seu sangue de mesma cor.

É tudo em nome do Senhor.

Pratiquem o comércio como ratazanas, escondidos atrás de burgos.

Pais do capitalismo, arranquem o poder dos reis. Homem comercial.

A única coisa que lhe importa é sua carta de franquia.

A força não está mais em nossas terras.

Ocidente e Oriente. Comércio e povoamento.

Não cabe mais ninguém nesse reino? Nem mesmo nos pântanos?

Esse frio está nos assombrando. A fome está nos matando.

Padecemos sob a peste que nos assola.

Nem mesmo os nascidos poderosos podem ficar.

O espectro da morte degusta seus cadáveres.

Gritos de agonia soam como cascavéis.

Um período de trevas se estabeleceu. Nuvens negras pairam sobre nós.

Todo medo é inevitável e a vida já não existe mais.

E toca o sino mais uma vez. Terminou-se a nova era.

Glaucio Viana
Enviado por Glaucio Viana em 27/07/2006
Reeditado em 24/11/2008
Código do texto: T202905
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