A Vingança Perdida

Desejaria rir um riso patético, um riso  sem graça,
mas quem sabe no riso, na comédia, afastasse o drama?
Fazendo-me ator, enganaria a mim e aos outros.
E numa atuação sublime, suplantaria o engano,
pois de tão vivaz, haveria de parecer real.
E como o que fica é apenas o que parece ser,
por mais estúpido que possa parecer,
tudo teria as bênçãos da suficiência.
Nenhum incômodo haveria,
pois a ironia julgaria santa a hipocrisia.
E ,cordatos , bateríamos palmas para a interpretação.
Nenhuma preocupação com a verdade,
pois que já seriam suficientes as boas mentiras.
E o maléfico estaria todo tingido pelo estético.
E toda tolice poderia galgar a genialidade.
Nesta simplicidade de ser, o significado se  perderia.
E por que se  preocupar, se a vida adere à morte?
Sim, pois que morto está o que vive o espírito.
E viver o espírito é um grande pecado
no mundo contemporâneo.
E não se confunda vida da alma com miseráveis rituais.
O homem justifica o homem pelo próprio o homem.
O homem cria o divino e faz dele sua criatura.
Palavras inúteis, uma vida completamente inútil.
Não existem ouvidos que queiram escutar.
E por que haveria de haver?
Insuportáveis palavras, destituídas de brilho.
Somente a conquista parece reluzir aos olhos.
O nada não pode querer ser tanto,
portanto nada é apenas vazio conveniente.
É apenas solidão criativa, niilismo invertido,
pois que o construir surge como rebeldia ao vazio,
vastos espaços de um coração inquieto,
escravo de espontaneidade inconveniente.
Portanto, para este o silêncio dos que não ouvem,
o desprezo dos que não veem,
o pouco caso dos que não falam.
E então a vingança, pois que ocultas são as palavras,
que fingem tudo dizer, enquanto tudo escondem.
Rindo-se do próprio choro,
pois que acostumado à amargura,
aprenderá a verdadeira e santa indiferença.
E então, vendo, ainda assim será cego.
Tendo a palavra, desejará ser mudo.
Ouvindo versos divinos, será surdo.
E no dia do julgamento não terá culpa,
pois que a culpa já não está mais em si.
E tudo perdendo, quem sabe terá a liberdade.
E então verá luz, ouvirá música
e seu silêncio causará tanto dúvida,
como curiosidade.
E neste instante a mudez dirá tanto.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 08/02/2010
Reeditado em 09/02/2010
Código do texto: T2076083
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