ENTRE DESEJOS E MEDOS
Deserto de luz e sombras
De caminhadas prolongadas
E ao mesmo tempo quebradas
De movimentos constantes
Por onde minhas pernas
Não querem andar
Como um destino traçado
Onde não faço questão de passar
É a estrada que piso dentro de mim
Terreno arenoso, escorregadio, temeroso
E que me deixa assim
Entre desejos e medos
Há o outro lado ainda
Que me puxa, não me dá escolha
Os frutos plantados, o ninho a oferecer
O trigo na mesa,
a certeza de que não há como fugir
do mover das águas, do remo firme
do direito de ser obrigada a andar, seguir
levar o barco até águas tranquilas,
toda a sua fragilidade, seu peso
sua leveza, sua sensibilidade,
assim, entre desejos e medos.
Entre todos os medos
Estão os medos dos meus desejos
De libertar a minha pluralidade
Todos os meus eus que teimam
Em me exigir a sua liberdade,
Ser única, abandonar essa dualidade
Travam uma luta, uma guerrilha constante
Percorrem cada canto dos meus pensamentos
Me obrigam a olhar pra dentro
E enxergar as grades que me prendem
E a perceber que para abri-las
Não há segredos
Basta somente desejos.