Sábado

Mais de mil anos, mesma estória

Estendida nestes alfarrábios empoeirados

Aquele desejo outra vez negado

Essa voz delicada, esse manto incauto

Essa dor ensimesmada

Fez ressurgir dragões devoradores de sonhos

Cuspidores de acalantos de fogo

Nessa verdade quase desmentida

Cânticos dos abismos afloram desta boca

E em silêncio você me acompanha e acredita

De cabeça baixa ruminando relva

Empresto os meus pés pra te levar

Tome este caminho siga comigo

Por este rio perdido...

Queres ser ovelha ou senda iluminada?

Pegue este cajado desfolhe esta garganta

Comece sendo pedra e vá aos poucos aprendendo

Seja rio, seja cio, seja ócio

E flua em silêncio pelos mares

E esta dor? Esta angústia

Com gosto de luminescência

Que começa pelos pés

E vai crescendo sábado afora

Só brilha, só cintila, só vislumbra

Se for canto de corpo todo

E alma em pólvora desmedida