O PALETÓ

Leva-me ao passeio,

Para a brisa da lua,

Quero atravessar a rua;

Sair desta câmara

Onde uma sombra sepulcral

Esgota-me com naftalina.

Quero ver o bonde, a formatura,

A cerimônia, o desfile.

Leva-me ao baile

Onde os cetins, sim, me sorriem.

Onde as sedas me corrompem.

Dá-me tua temperatura,

Dou-te minha fibra alinhavada,

Teu trespasse para a fama,

Para moda, para a gala,

Far-te-ei imponente, elegante

Quero o alvitre, sair destes cabides

Para teus ombros, tua talha.

Empertiga-me.

Banha-me com sol da tarde,

Entraremos na fila

Para comermos pipocas.

Da praça ao coreto

Faremos quórum,

Entoaremos o côro.

Posaremos para a foto,

Correremos da chuva.

Ser-te-ei fiel, em meus bolsos

Guardarei-te o anel

Que ofertarás a ela.

Confidente,

Conservarei teu inacabado poema,

Teus ditames, teu discurso mais vil;

Aos compromissos de flor na lapela

Iremos pontuais

De essência e gravata...

Quero ver-me no espelho,

Nosso brilho varonil.

São teus os meus botões,

São teus estes galardões?

Leva-me deste sarcófago

Para a mais ampla avenida.

O guarda-roupas deprime,

Torna opaco nosso lume,

Torna pálida a minha cor.

Quero tua grife, teu suor.

Ouviremos missa e o concerto.

Celebraremos a boda,

O dia Nacional de todas as nações...

Seremos recebidos com convite?

Ao congresso e ao museu de artes.

Seremos uniformes

Entanto sobressairemos

Dentre os artistas, dentre os loucos,

Pouco a pouco

Seduzo-te:

Darte-ei o ocidente

Pois sendo a alma peregrina

E o sangue de todo cardeal,

Tua pele seria em bata,

Peça única e original

Ou pêlo animal.

Pois sei, tu me desejas vergar.

Sonho com o comício

Pré-revolucionário,

Os panfletos no bolso interno,

Teu lenço vermelho.

Terno o senho

Com a fé em procissão de velas

Pelas vielas da cidade não tão velha,

Como a estação de trem, o bilhete,

A espera de alguém.

Lava minha alma com o sabão

Da não rotina da tua vida.

Suja-me com teu molho,

Com tua nódoa, com teu rouge vinho,

Mancha-me com o batom carmim

Resquício do beijo em mim.

Sagra-me com tua lágrima,

Embanha-me com champagne

Da vitória.

Empapa-me

Com teu espirro, com teu soluço,

Com alvoroço de perfume.

Vamos ao batismo

Do teu filho,

Ou Filó.

Flor do cipó.

Quero ver a barca aportar no rio

E teu sudário serei

Se fizeres de mim

Leve casimira,

O estuário das tuas alegrias.

Espeta-me teu pingente da irmandade

Na gola, de associado remido

Protegerei teu pescoço do frio,

Entretela em colarinho,

Da guilhotina da degola,

Do pó que a carruagem exalta,

Tua armadura, teu véu tecido,

Casaca, fraque, libré,

Vamos ao café.

Durmamos juntos,

Jamais te deixarei nu.

Desviarei as balas assassinas

Da tua sina, da tua mira,

Escudo e bandeira do teu ideal

Passaporte de clandestino

Cantarei cigano hino.

E entre fogos de artifício

Ecoaremos qual repique de sinos.

Contrastarei tua face iluminada

Com a realidade.

Aliviarei teu trapézio escaleno,

Modelarei teus atos obscenos.

Não é vingança, revanche

Por deixar-me aqui no claustro

A expressão e ato falho

Abotoar-o paletó;

Insepulto jamais te deixarei.

Seremos e somos

Tu, da árvore a semente

Eu, do fruto permitido a casca,

O tempo, da vida, são os gomos.

Embalsamar-te-ei

Meu faraó.

Linha costurando o horizonte

Da tua eternidade.

- Eu sou o teu paletó.

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Prémio Leterario Internacional Nova Sociale 2010

Sétima Edição Premio Nocera Poesia - Seção Poesia Estrangeira

Domingo 3 outubro 2010 ora 17:30 perto de Villa De Ruggiero. Via Nazionale,164 - Nocera Superiore (Salerno), Cerimonia da entrega do Prémios.

Prezado Luís Carlos de Oliveira, o presidente fundador Sabato Laudato, da Associação Nova Sociale e a júri do prêmio, dá comunicação a você que a seu poesia "O paletó" é resultada ganhar Uma Medalha a recordação do evento com Diploma de Merito Internacional.

Com estima.

Sabato Laudato

Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 07/04/2010
Reeditado em 05/09/2010
Código do texto: T2183232
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