Sentir falta.

As vezes fico me perguntando.

Do que mais sinto falta?

Sinto falta?

Que ausência que se faz tão presente

Está nos vãos das escadas,

Nas frestas da parede,

Nos desvãos do caminho,

No silêncio intrigante dos mistérios,

Nas reticências retilíneas do lirismo.

As vezes fico a divagar longamente.

Do que realmente sinto falta?

Havia um dorso humano ali?

Um rosto ou expressão que me explicasse

a sombria a razão de tudo...

E, no espectro fico a filtrar as palavras

Que jamais foram ditas

E por isso, malditas

Então selaram nossa sorte.

Quanta dor, mágoa e rejeição.

Quanta angustia só

por estar apenas entardecendo,

envelhecendo,

entristecendo...

Por estar morrendo todos os dias,

E se despedindo do horizonte riscado à giz...

E apagado regiamente pelo tempo.

E estarmos sozinhos perante o espelho,

Indefectivelmente sozinhos.

Sem Deus e nem perdão.

Diante dos olhos

e das nódoas deixadas pelo viver

Do que sinto falta?

Da memória?

De ter idéias e esquecê-las?

De perceber e desconfiar?

Ou apenas do simples gesto

corriqueiro, o aceno à distância

De quem passa.

Só passa e não fica.

De estar sozinha à sombra

De lembranças que quero esquecer.

Essas inquirições nos abominam

Diariamente e rispidamente

E, me esfrega o ranço amargo

De sorver o mundo com lucidez.

E de ter medo de sentir falta.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/04/2010
Código do texto: T2198644
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