O mar

figura estranha que banha cada passo que dou;

Manto espumante de gosto cortante, me mostra o que sou...

Navego, navego... Inquietude lasciva... guardada nas ondas, segredo da vida...

Sobre, não há nada;

Sob, jóia rara;

Inverto a direção pra chegar em lugar algum,

chegando em algum lugar preferia estar em nenhum...

Aqui. Me afoguei, desci, me encontro aqui.

O que mais me resta? Desistir?

Não...

Contemplando a concha, ostra-mestra fechada. Em madre-pérola formada, pra nunca se abrir...

Pedi. Com leves cantos pedi. Engolindo água, inda assim pude ouvir...

Tão rara. Pérola pequena... tão pequena... tão rara...

Não pude crer, o que vi já me atara...

Só pude sentir, pois que já me consumia...

Perdido... Nos mares distantes me fiz já perdido...

Afogado, estranhado, há muito olvido...

Mas à pérola não...

Peguei. Com mãos que cantavam, atrevido eu peguei.

Beijei, em meus lábios, teu brilho tomei;

Com as mãos em farrapos, ao peito levei...

Guardada. Por sete mares navegados, enfim, procurada.

Esquecidos tratados que não podem ser ditos...

Pois entre leões e leões... não há tratados!

Vento... Que pra mim significa? Nem maré, só a corrente... ela me leva docemente... ela me leva docemente...