SEXTA METAMORFOSE

Do ar que eu respiro pesado e tão morto,

Esguichei em pingos o meu veneno fatal,

E suguei num momento de agonia absorto,

As luzes refletidas neste meu mapa carnal.

Ainda que ao depender dele eu não respirasse,

Comeria essa minha própria existência latente...

Depois eu cuspiria a ferida de quem me matasse,

Que ao cair neste chão tão vazio, viraria semente.

Na madeira oca da minha textura eu me aninho,

Trançando-me em cipós nesta estrangulada mata.

Aqui, vejo e ouço os pios de um cego passarinho,

Que mal se formou, lá onde o seu futuro o retrata.

Onde foram jogar os vômitos das vossas displicências?!

Se for nesta madeira sã cortada, o vil inimigo te matará.

Sentirão os ascos dessas rígidas e inóspitas resistências,

Encravando em ti estacas, qual não muito longe tardará.

Na água, me levo na correnteza desse obscuro,

Em lugares que de mim, imploram por um abrigo.

O bem e mal que tento segurar, mas não curo;

É vida, é preciosa, também é um grande perigo...

E podem se revoltar absolutas nestas memórias,

Que se passaram na antiguidade do meu mundo;

Onde a sorte a cada passo afundava em glórias,

Transformando-a em um lago negro e profundo.

Na massa que meu espaço ocupa e eu piso sempre,

Um dia fui a areia, que se esvaiu para outro lugar;

Bondoso homem, que por lá ficou doente da mente,

No andar entre profundas rachaduras do seu penar.

Uma elegia a tão grande e firme terra produtiva,

Que se desdobra nas suas constantes convulsões,

Avisando a todos os seus agressores: Estou viva!

Mesmo destruída, em seus lamentos de emoções...

E do fogo, que pensávamos na chama que fere todo ser;

Em seu esplendor de luminosidades, e na sua rica magia...

Esquenta a tua carne, mas, depois faz teu eterno sofrer;

Ao te envolver na culpa de quem o mal a um outro fazia.

Queimar assim, tenta-se desmanchar esse grande pecado,

Carregando penitência á fogueira, nesta sôfrega clemência;

Mas a bruxa que sou tem poderes, não incinera ao seu lado,

Somente danço leve, na sua vermelha luz de pura elegância.

No metal que derrete dentro das minhas veias e se conduz,

Vejo esses grandes valores nas compras desse tal submundo,

Que como a ganância, serão os mesmos a apagar minha luz,

Pelo dourado e ermo humano, em maldade do ardor profundo...

Como a procurar a vã felicidade sem ver o arrependimento do céu,

Deito-me em livre vontade nesta minha nova casa aqui construída,

A paz dos elementos se fundiu no fogo da cruz do meu mausoléu,

Na terra fui sumindo, me desagüei, e no ar me evaporei desta vida.

Setedados
Enviado por Setedados em 21/05/2010
Reeditado em 07/06/2011
Código do texto: T2270955
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