DELÍRIOS DO AMANHÃ

Dentro de mim o escorrer lento,

Em fluxo da demência do tempo.

No parto do vento transparente,

Fui o rebento da morte vivente.

Da triste pele que suada de lamentos,

Nasci em nervos versos já aflorados.

Surgem-me pingos em exclamações,

Destes episódios em descontruções.

Em delírios do amanhã!

Toda morte não será vã!...

Salvar toda a mente sã!

Em delírios do amanhã!...

Onde dentro de mim,

Este louco serafim,

Agita-se tanto assim.

Que na oca consciência,

Da minha rasgada existência

Demente eu ainda mais ficava,

Sem saber a alma que ocupava.

Costurei-a então na minha essência.

Formou-se uma roupa de carne lá dentro,

Logo serei eu, portanto, um novo elemento,

Uma trova que em mim se destrava em voz de trovão,

Numa página revirada do falecimento desta crua visão,

Sentia chegar ao meu corpo, a maligna transformação.

As minhas costas se abriram em pavor,

Nos meus dedos duras unhas cresciam,

E as penas das almas em mim nasciam.

Numa metamorfose sofrida, mas sem dor,

Nasceram-me negras asas de um condor.

Era agora uma ave lúgubre e enorme da mutação.

Tinha eu os grandes olhos da fome da ingratidão,

Que derramaram com o sangue impuro de amor.

Dali em diante seria eu um assassino em missão,

Voaria livre no meu dever das horas desse horror.

Em cada montanha de carne que eu ali construía,

Tinha mortos da depravação, na louca hipocrisia.

Ceifava em abundância os discípulos da ganância,

Levava a todos que a forma torpe da vil elegância,

Enganou e usou nos poderes do poço da arrogância.

Após muito tempo eu entrei em uma caverna infinita,

Que a mim foi destinada depois do meu cumprimento.

De lá eu escutava aquelas almas que em lamento grita,

Pedindo o perdão que jamais virá do justo firmamento.

Colando-me na parede me desmanchei em úmido negro,

Meus fortes ossos ficarão montados na vigilância eterna.

Meu segredo e meus olhos vermelhos como rubi em fogo

Foram as únicas luzes que ficaram aqui dentro da caverna.

Minhas penas no chão aguardam o condor ser ressuscitado...

Fechei-me nesta reclusa casa e esperarei pelo novo chamado,

Onde uma nova colheita de almas podres, tomará conta o diabo.

Sou seu mensageiro alado e levarei da terra quem for condenado.

Setedados
Enviado por Setedados em 28/05/2010
Reeditado em 03/06/2011
Código do texto: T2285393
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