Piruá

PIRUÁ.

Joguei na panela do sonho.

Óleo, esperança e sal.

Milho e felicidade.

Temperos do bem e do mal.

O tempo, o sol e a lua.

Refletem no caldeirão.

Ingênuo espanto do índio.

E o arguto espreitar do leão.

E era dia de festa.

Naquela grande nação.

Dançavam e riam os súditos.

De braços dados, irmãos.

Alegres, simplórias pessoas.

Em volta daquele rio.

As aves que ali gorjeiam.

Anunciam amor e o cio.

E do caldeirão mágico.

Explodia emoção.

O milho virava pipoca.

Sob a luz do luarão.

Pirilampos do futuro.

Lumiavam a solidão.

Traçando os rumos daqueles.

Enraizados no grotão.

Mais surge a bola de fogo.

Destruindo a mansidão.

Usando suas espadas.

Escalando o paredão.

Daquele tacho encantado.

No meio da multidão.

O piruá idiota.

Instala o medo e o cão.

Banindo todo o sossego.

Daquela mata servil.

As aves já não gorjeiam.

Não há amor nem o cio.

Derrubam sequoias.

Do coração do Brasil.

Envenenaram nascentes.

E tudo ficou por um fio.

A rosa de Hiroxima.

Que o poeta cantou.

Calou também Nakasaki.

Num sufocante calor.

Os Piruás idiotas.

Como se fossem baratas.

Imune ao mal radioativo.

De palitó e gravata.

E povoaram o planeta.

Com sua triste razão.

Matavam a sede com sangue.

Da mesquinhez surge fome.

E dividiam as fossas.

Com vermes, nojos e ratos.

E produziam o lixo.

Comendo no mesmo prato.

O Piruá é o milho.

Que não explode no tacho.

Que da na mesma espiga.

De tão rara ferida.

No fundo escuro do poço.

No centro de um caroço.

Um vil tumor cancerígeno.

Que brota no seu pescoço.

O piruá é estúpido.

Não tem imaginação.

O piruá é mesquinho.

E não escolhe canção.

Mais não eclode na praça.

No meio da multidão.

É desprovido de alma.

Ele não tem emoção.

E quer sentar na cadeira.

Onde sentou nossa fé.

Não quer usar a coroa.

Prefere o rubro boné.

Quer povoar o planalto.

Com a escória taluda.

Levando a velha senhora.

Uma caveira barbuda.

É um juiz implacável.

A sua lei é formal.

Atende todo amigo.

É um cabide ideal.

Umbral do crime e castigo.

Notícia fresca em jornal.

Protege sua família.

No seu palácio real

O sal que tempera milho.

E muda o gosto do sonho.

Que se mistura ao óleo.

Pra aumentar de tamanho.

Que eclode na natureza.

Nas margens sem evadir-se

Onde o príncipe bradou.

E a algema partiu-se.

PIRUÁ- (MILHO QUE NÃO ECLODE)

Honorato Falcon
Enviado por Honorato Falcon em 28/07/2010
Reeditado em 11/05/2015
Código do texto: T2404185
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