Louco em Devaneio

Não quero pensar nisso hoje,

nem amanhã,

nem depois de amanhã,

porventura os dias seguintes

seriam capazes de me devolver a paz?

estou tonto,

tonto de tanto pensar,

de tanto agir, ou das duas coisas.

Meus pés perdem as calçadas

e as ruas sempre são

curvas irregulares

que insistem em levar-me para algum lugar.

o coração pulsa, como pulsa o sangue

que corre pelas veias,

pulsa como as batidas dos sinos

que tocam em meus ouvidos

surdos de tanto ouvir

as meras palavras

de pobres e infelizes seres humanos

que não sabem o que os espera

eu sei viver a vida

da vida que me é posta a prova

sei corrigir com lápis

as alucinações dos pesadelos

de um sono sem fim

acordo! vivo!

eu apenas estou aqui

metódico, almejante mas sem força

de lutar a favor da podridão

das ratueiras armadas no cérebro

imbecíl, de quem mal sabe abrir a porta

que não sabe gritar ao mundo

ou gritar ao mundo do seu próprio eu

seriam capaz de me devolver a paz?

roubaram-me e estou a procura do infeliz

que não sabe lutar pelos seus vãos argumentos

de homem, de mulher, de bicha, de animal

Estou tonto,

tonto de tanto pensar,

tonto de falar, ou das duas coisas.

digo pra quem quer me ouvir

a vida é sempre a mesma

desde a criação da terra,

os seres que tem patas

que comem, que sentem frio,

que sentem calor, que nascem de um outro ser

que se diz pensante

que se diz amante,

que se diz astuto,

somos os mesmos

os mesmos macacos irracionais

somos a mesma podridão

que se dissolve horas após

do coração que pulsa,

que faz o sangue correr pelas veias

pare de bater a seu favor.

Pare de bater nos elevados

da vida medíocre

dos poderes que achas que é suficiente.

Idiota!

Seja anormal por um dia,

por uma hora, por um segundo

e saberás que não existimos,

que não somos,

saberás que fomos,

saberás que nunca seremos,

nunca seremos mais do que

queremos ser.

Adriano Veríssimo
Enviado por Adriano Veríssimo em 16/09/2006
Código do texto: T242017