Mais um dia.

Sou ébrio, ordinário,

uso luto nos atalhos que traço,

construo o contraditório,

no avesso dos meus passos.

Bebo rios de tragédias,

sou ave noturna,

canto e danço meus prantos,

ofertando sobras aos santos.

Em madrugada sem óbitos,

acordo a caveira,

suplico guarida, uma dormida,

na catacumba, uma beira.

Curtido no odor macerado,

como assombração desfaleço,

desperto na lájea preta,

num mantra sentido de um terço.

Sirvo ao velório da vez,

engulo goles de magia,

choro um choro sentido

a um defunto que nem conhecia.