Longe de sua casa de vidro quem poderá a salvar?

Certo dia foi ousada fugiu de sua casa de vidro,

aquela transparência toda lhe embaraçava a mente,

corria então escandalizada pelos bosques e entre as flores

e derramava cacos finos que espatifavam no chão

suas sapatilhas que outrora

deslizavam no assoalho encerado

agora pisavam no verde, nas pedras e estava contente..

O castelo aos pedaços, tomava novas formas com o vento,

e lapidava o vento nas rochas novos tenteios,

era vida nova, eram novas idéias,

mas ela emudecida, perplexa e perfeitamente graciosa,

já pouco lembrara do espelho e da penteadeira

pouco lembrara de sua linda casa de vidro,

pouco lembrara que vivia com medo de todos,

e que corria de medo do mundo..

Mas ela não podia ser amada,

e muito menos tocada, pois era vidro e cortava,

estava condenada a viver com a boca calada

com seus enormes olhos azuis estrelados

ingênua, doce e terna a observar o mundo atenta.

Ela sofria por ter aprisionado tantos corações

sem poder ama-los , os que tentaram recuaram..

Mas foi na subida dos degraus do castelo em ruínas,

que ela viu o gárgula imóvel, a mover os olhos,

parou em sua frente a observar se a vida lhe daria uma oportunidade,

não entendia o que sentia mas aproximou os lábios,

dos lábios do enfeite, e encostou sua boca congelada

nos lábios do gárgula que se desfazia por magia..

E transformou-se um belo moço o gárgula

e do céu desceu um alazão alado,

e a moça de vidro continuou

estática com os olhos arregalados..

Já com pouco medo de tudo,

com pouco medo do mundo , com pouco medo de todos,

longe da sua casa de vidro,

e presa num castelo em ruínas.

Nina Blessed be
Enviado por Nina Blessed be em 20/09/2010
Reeditado em 20/09/2010
Código do texto: T2510545
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