Inutilidade

Acordo e tento me recordar.

Recordações são inúteis!

Ainda assim procuro levantar.

É minha motivação fútil.

Fragmentos pululam o cérebro,

Não passam de memórias,

Nada possuem de etéreo,

Apenas uma seletiva história.

Aguarrar-me a estas lembranças,

Tolice que ainda faço,

Pareço uma inocente criança,

Hoje as acendo, amanhã me apago.

Desconsidero o porque da seleção,

Capto sem motivo aparente.

Pra que estimular a imaginação?

Só vivo o “real” presente.

Porque me preocupar por ter sido?

Porque maltratar o que não ocorreu?

Porque se emocionar pelo que nem foi vivido?

Porque me ocupar com o que pereceu?

O que faz retornar esta lembrança?

Seria estímulo orgânico?

Quem sabe birra, perseverança,

Ou receio do presente, pânico.

Será que Durkheim possuía razão?

Não passa de uma lógica

Orgânica, com mecânica função,

Tornando-se fragmento de paródia.

Estes cadáveres me perseguem,

Devorando pensamentos de agora,

Inundam a mente,

Canibais a serviço da memória.

Inutilidade de reviver,

Acordei pra vida,

Não consigo esquecer,

Menmósine doentia.

Sou açoitado pelo não-sido,

Carrasco impiedoso,

Dilacera-me com afinco,

Arrogante, presunçoso.

Subitamente me corrompe,

Atrapalha as idéias,

Aos poucos me consome,

Trata-me como basileia.

Porque tu selecionas e não eu?

Controla-me como marionete,

Decreto seu fim, amante de Zeus,

Reclamo meu direito a pensar, inconteste.

Clio serve-se de ti para alimentar-se,

Mas sabemos das deturpações e falácias,

A História como Karl Marx disse,

Se repete de duas formas, a primeira como tragédia,

a segunda como farsa.

Não serei apenas outro apêndice,

Um epíteto de lembranças que faz-lhe ecoar,

Renascerei cada instante, como fênix,

Um epígono diferente de Orfeu, pois meu olhar,

não se voltará para trás.

Também não me deixarei perder no porvir,

Fincarei os pés com firmeza no presente,

Não pretendo retomar o esquecido ou advindo,

Vivenciando o agora, sem forças heraclitianas em mente,

um vil humano, sujeito existente.

A morte em vida existe e isso se torna inegável,

Recordamos o passado vivido e o “se” passado,

Enquanto o presente esvai-se no cotidiano diário,

O passado, o presente e o futuro nos é negado,

inútil-vivo, sujeito indeterminado.