POEMA REALISTA - II

Um rio de misericórdia e de angústia

na alma calou a fulva receosa

(de quem a voz que me surpreende

quando o grito das águas anoitece?)

corola que estiola de pétalas caídas

no azul desmaiando, soberba lua.

Mortificadas folhas jazem agora no chão

inventando lugares e escaparates

arremessadas pelo vento que é distância

mais que prudência ou ignorância –

dos “homens” falíveis e inflexíveis

que estupram Mausoléus de pedra

incrementada.

Voo de mariposas de asas cor de escarlate;

soam os sinos a defuntos na abstracção

da pedra santificada (dorme a besta) –

embriaguez saturada de mãos vazias

que o rio colhe e o pescador zurze nas redes

buscando o peixe enredado: a momentos

esquecido quando da foz se vê o azulejo.

Jorge Humberto

27/12/10

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 28/12/2010
Código do texto: T2696425
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