Tudo na cabeça
Tudo pensamento
Tanta ilusão
Tanta inflação
Escrevo devagar
Eterno devagar
Faço e desfaço
Sem rosto nem corpo
O vazio toma conta
Bilhete no bolso
A areia sufocando o pescoço
O fundo cada dia mais perto
Eu que sou o mais pessimista dos homens
Flores num quadro
Sombra a sorrir num espelho
Reino dissimulado
Nada é o que quero
Tanto navego
Tanto espero
A voz é um labirinto
Chamando o Minotauro
O poema invade
A primeira folha do jornal
Palavras caem
Roxas sem ar
Versos fuzilados pelo cotidiano
Se o poema estava pronto
Não me avisaram
Não são lágrimas
Um cisco na vista
Esfrego os olhos
Leio e reescrevo
Sobra inspiração
Bobagens do coração
O sono invade
A imaginação cria
E mão assume a paternidade