A Revolta da Lua

A vaidosa lua está por demais deprimida...

De repente viu-se assim toda despida

Linda demais, no palco do céu, sempre protagonista,

agora se adentram lá da terra alguns vis alpinistas

Vem o astronauta, pousa em suas costas

Sem sequer ousar algumas das preliminares

E a despe de sua veste de purpurina...

Viu-se no escuro rasgada na intimidade

Maldita ciência... Mostrou-lhe as cicatrizes...

Expôs suas rugas cuspindo em sua maquiagem

Amplificou-lhe a imagem do rosto acinzentado,

Fez da sua pele fulcros e cruéis buracos negros

Como um queijo suíço alquebrado

Desbotou-lhe o bronzeado!

E a tatuagem de “São Jorge”, orgulho seu?

Ficou esmaecida tal qual entreaberta ferida

E os fãs? E os namoros ao luar?

Ninguém mais viu nem em Madagascar

Será tão romântico enamorar-se à frente de um telescópio?

Trocar o real do sonho pelo imaginário ilusório ópio

E o enredo, contado nas tribos,

Da fumaça mandando recadinhos de amor?

Do seu romance frustrado com o sol?

Em todas as épocas do eclipse fenomenal

Isso foi uma violência cometida pela vil ciência...

A vaidosa lua viu sua imagem deturpada

Em nome de uma inteligência que é a total demência

Ela que povoava mistérios da meia-noite, contos de terror

Criaturas místicas e folclóricas... Fez no meio da dor

Que até o próprio lobisomem virasse homem

E agora, que suas fases nem impressionam?

De que adianta ser nova, minguante, cheia ou crescente,

Acabou-se no arcabouço a transparência

O céu parece que virou festa de vampiros em decadência

Se sua cor de prata se apagou? Escafedeu-se...

Até a sutil poesia parece que evaporou

Quisera nossa atriz principal voltasse aos lábios do poeta

Que da sua lavra santa tudo se manifesta em festa

Brilhasse no céu com sua fantástica imagem

Sem artifícios de malandragens

A lua que inspira e suspira idos anos,

Que pirou e transpirou versos santos e insanos

Áureos tempos, das serenatas

Ingrata a vida... Que solidão!

Cultuam agora só a destruição

Dos sonhos mais lindos...

Isso sim é que é deturpação

Não tivesse o astronauta

Descortinado sua pureza invicta

A sua virgindade santa e tão bendita

Nem tirado sua veste de purpurina...

Ainda seria a minha terna e pura menina

Abaixo a epistemologia! Viva a poesia!

Duo: Nalva Ferreira e Hildebrando Menezes

Nota: Em homenagem ao Programa VERSOS AO LUAR!

Navegando Amor
Enviado por Navegando Amor em 16/02/2011
Reeditado em 16/02/2011
Código do texto: T2794899