ALEGRIA PELO CHÃO, FOLHAS SOLTAS

Do livro que se esvai em sangue e que escorre pela estante sou autor e personagem. Nele feri minhas mãos e o coração estilhaçou-se.

Do confete que enfeita o seu carnaval, sou a seiva da árvore que não vê. A que está contida nas folhas miúdas que lhe cai pelo corpo em alegria.

Das rimas, loas e louvações atiradas sobre o teu corpo, feito chuva e flores, sou a nuvem negra que despenca e o jardim que apara toda a água dada em sede.

Sou solo fértil em que se planta, onde semente que se abre, donde brota o caule que sobe ao sol, bebdi em fotossíntese da loucura.

Da clorifila que resulto, sou o cheiro da manhã que desponta, a romã a espera da sua boca na árvore e que apodrece sem a mordida querida.

Quiça tudo seja apenas uma questão de palavras, alma em dissolução, mente em desvario, na contramão, contradição.

De qualquer forma fico aqui no meio fio, afiando o facão para o corte, criando o mote para poesia barata que teço na roca do incerto - impreciso e desnecessário como um navio sem rota.