Cair

E aquela sensação,

De estar no mar,

Não tocar o chão,

Sentindo o corpo boiar.

Bela impressão captada,

Pelo meu amor literário,

Lispector, doce amada,

Me inspiras-te esse cair trágico.

E caíssemos de vez,

Uma queda contínua,

Nada para prever,

Tudo se consumiria.

Nunca chegar o destino,

Sempre suspenso,

Um porvir contínuo,

Sem nenhum provimento.

Caindo, caindo, caindo...

O fundo inexiste,

A gravidade dá motivo,

Para sentir esse fim triste.

Nem posso chamar de fim,

Nunca acaba esse abismo,

Não sei se vou pra baixo ou pra cima,

Nem sei se ainda me sinto.

Cair eternamente,

Uns dizem que gostam de voar,

Mas as aves repousam constantemente,

Não esse tombo que não se pode parar.

A angústia de quando virá o solo,

Será que quanto mais caímos,

Maior será o impacto? Eu choro.

Desesperado eu vou caindo.

Se o Inferno é embaixo,

Ou passei por ele ou chegarei nele,

Se estou caindo ao contrário,

Devo esperar o Paraíso no final dele.

Agora sei o que é ser uma estrela,

Só que minha supernova não acontece,

Ninguém que comigo nesse terror esteja,

Parece que a realidade toda evanesce.

Me tornei também um Anjo Caído?

A queda de Satã ou outro nome que queiram dar,

Será que foi mais breve nesse sentido?

Se não chegar como irei esse problema elucidar?

Não há nada no caminho para me distrair,

Apenas me concentro nesse corpo que cai,

Fecho os olhos e sinto a pressão me oprimir,

Eu pareço ter ido mas o corpo não esvai.

Estou caído dentro da queda,

Sinto todas as nuances desse deslocamento,

Foi uma imposição de entrega,

Um ser feito corpo celeste sem firmamento.