Esqueleto

Não te foi o bastante

Ver-me nua

Braços abertos

Pernas cada uma em zona distinta do mundo

Ossos expostos

Olhos reflexos, côncavos, buscando negror interno

Sem asas

Sem ancoras

Sem carteira de identidade.

Não te foi o bastante

A promessa que cumpri

De não mais ser tocada

Por nenhum som que seja

Nem valsa.

Não te foi o bastante

Aquela indecisão de não saber quem era

De não reconhecer-se

De não entender realidade onde nada houve

Decerto.

Louco, fostes arrastando-me

Vendaval em tempo de poeiral

Casas ocas de bocarras tortas

Pau e barro

Taipa.

Mas não te culpo

Como não poderia culpar-me a mim.

Antes, adormeço todas as noites

Sob galhos secos em terra sedenta

Enquanto pássaro lá no alto

Diz assim

Eu vi, desgraçados, vi...

LLima

Luciene Lima
Enviado por Luciene Lima em 23/11/2006
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