AUTORRETRATO

Eu fico diante do espelho e visualizo a cicatriz na minha testa

Que pra sempre ficou, de uma lata jogada por não sei quem,

Quando nas brincadeiras de rua entre os moleques vizinhos.

Agora esvaziando as veias dos destinos do tempo que me resta,

Deixo crescer os cabelos da experiência que nas costas caem.

Sigo em frente olhando o vazio sem voltar atrás velhos caminhos.

No meu quarto ouço a música a tocar... Lá fora o céu em breu,

Que quando o vejo, engole os meus desgastes da realidade,

Olhando as poucas estrelas cúmplices da tentativa de atividade.

Sempre mantendo as horas dos dias chupadas na cura do tempo,

Faço um rabisco aqui e ali, seco o rio de quem já me esqueceu;

Emendo as letras que me remendam, faço nascer um rebento...

Antes as dinamites estrondosas

Arrebentando cabeças parasitas,

Do que palpites nas minhas prosas,

Torcendo minhas palavras já ditas.

Então só me resta ser como um passarinho

Que lá de cima, feliz no vento a planar,

Caga em seu pleno voo, despreocupado

Com o rumo que a merda possa tomar.

Feridas se curam sim, em você e até em mim,

Mas, não pense que a vela que um dia tu acendeu,

No propósito de derreter as lembranças até o fim,

Poderá voltar reciclada dando vida ao que já pereceu.

O autorretrato é uma forma de glória, destino ou castigo,

Que poderá acontecer na real história comigo ou contigo...

Setedados
Enviado por Setedados em 26/05/2011
Reeditado em 17/11/2011
Código do texto: T2995260
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